terça-feira, 7 de abril de 2009


"Para encontrar o azul eu uso passáros,as letras fizeram-me para frases". (Machado de Assis)


Minha relação com a leitura partiu de uma situação muito peculiar entre as famílias que têm muitas filhas. Somos cinco e eu a quarta. As tarefas domésticas eram divididas e eu odiava executá-las. Então, para escapar corria para debaixo de uma mesa e fingia estar lendo, mostrava-me muito interessada pelas letras. Minha mãe redistribuía as tarefas e dedicava mais tempo ensinando-me o ABC, de uma forma muito particular: fazia a chamada das letras, cobrindo as demais com um pedaço de papel (furado) para se certificar de que eu já as reconhecia.
Era prazeroso aprender a ler, desvendar outros mundos, diferentes daquele da cidade pequena e sem aventuras no qual eu vivia. A leitura me proporcionava uma vida que contrastava com as obrigações domésticas, era para mim um refúgio.
Assim, a minha infância foi sempre recheada de muitos livros: sonhava com príncipes, mulheres guerreiras e sonhadoras, viajava nas HISTÓRIAS DE TRANCOSO contada por meu pai.
Minha mãe, muito devota (católica) só me contava histórias bíblicas que, eu evidentemente, não achava muito graça, faltava emoção. E assim, quando aos sete anos fui à escola já sabia ler e escrever. Na escola, conheci os livros com imagens coloridas, as cores me fascinavam, a imagem me encanta até hoje.
Fui uma pessoa privilegiada no universo literário; visitava A CASA DE CULTURA de minha cidade, um lugar encantador que guardo na memória até hoje, pois havia muitos livros. Lá conheci MARCELO, MARMELO E MARTELO, DIB’S EM BUSCA DE SI MESMO, ÉRAMOS SEIS, AS TRÊS GAVETAS, MEU PÉ DE LARANJA LIMA, AS AVENTURAS DE XISTO, O MENINO DE ASA, O MENINO DO DEDO VERDE E POR AÍ VAI... Meu universo de leitura foi-se ampliando à medida que crescia e amadurecia. Conheci o charme da escrita e o mistério de ÁGATHA CHISTIE, HAROLDO HOBBINS E SIDNEY SHELDON. Era apaixonada por eles. Lia tudo deles, em qualquer lugar, hora. Descobri-me míope de quase 8 graus.
Isso tudo preocupava a alguns da família, pois eu me isolava e tinha dificuldade de me relacionar com pessoas que fugiam ao meu parâmetro de estudante: aquela que não precisava ter as melhores coisas, mas fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
Só no Ensino Médio é que a Literatura dos clássicos se tornou intensa na minha vida. A secura das palavras de Graciliano Ramos se confundia com a vida inóspita e sem oportunidades da cidade pequena onde eu morava; Machado me intrigava, me sentia a própria Helena, Capitu, Virgília e todas as mulheres descritas por ele. Era um verdadeiro bruxo que hipnotizava sua súdita.
Por esses mundos navegados visitei Victor Hugo, Tostói, Dostoievsk, Kafka entre tantos outros que continuam a me convidar diariamente, ao deleite da leitura, mas em detrimento das responsabilidades do dia-a-dia são substituídos por outras leituras ou por um número muito exíguo.
Acredito que o futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido e que sempre haverá oportunidade para reinventar o tempo.
Deixarei aqui registros da vida: pensamentos, sentimentos, viagens; sons do mundo; ilustres colegas de sonhos; desejos alegres; imagens da vida ou das vidas.

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